ATA DA DÉCIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 01.06.1989.

 


Ao primeiro dia do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Sétima Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, dedicada a homenagear a memória do ex-Prefeito José Loureiro da Silva em razão da passagem dos vinte e cinco anos de seu falecimento. Às dezessete horas e dezesseis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver. Airto Ferronato, representando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Ver. Adroaldo Correa, representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sr. Pedro Marcos Schneider Loureiro, neto do ex-Prefeito José Loureiro da Silva; Dr. Almir Accorsi, Secretário do Governo Municipal na Administração Loureiro da Silva; Dr. Manoel Braga Gastal, ex-Secretário Municipal da Fazenda na Administração Loureiro da Silva; Dr. Guido Backos, ex-integrante do primeiro Conselho do Governo Municipal da Administração Loureiro da Silva; Dr. Aldo Olinto de Carvalho, ex-Presidente do Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre; Dr. Otávio Germano, ex-Deputado Estadual; Dr. Sérgio Paulo Schneider, Chefe de Gabinete na Administração Loureiro da Silva; Sr. Leandro Telles, sobrinho do ex-Prefeito José Loureiro da Silva; e Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo ao evento, salientando as realizações daquele ex-Prefeito e a importância dessas para a hodierna cidade de Porto Alegre; e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Edi Morelli, em nome da Bancada do PTB, em breve histórico, enumerou obras do governo do ex-Prefeito José Loureiro da Silva. Destacou a capacidade administrativa daquele, e afirmou que a comunidade porto-alegrense é testemunha da nova feição humana que suas obras e realizações imprimiram a esta Cidade. O Ver. Dilamar Machado, em nome da Bancada do PDT, manifestou seu orgulho por ter convivido com aquela personalidade, e qualificou-o como um dos mais fantásticos administradores que a cidade já viu. Afirmou que a memória do ex-Prefeito José Loureiro da Silva e suas realizações como administrador, pela importância e relevância, se inscreveram na história do Rio Grande do Sul. O Ver. Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB, cumprimentou a iniciativa do Ver. João Dib em homenagear a memória do ex-Prefeito José Loureiro da Silva; discorreu sobre a administração, obras realizadas e biografia daquela personalidade e, destacando a nova feição urbana que tais obras deram à cidade de Porto Alegre, afirmou que a população desfruta do legado daquele Prefeito e que certamente não o esquecerá. A seguir, o Sr. Presidente registrou a presença do Sr. Leonidas Rangel Xausen, Eugenio Mendes Machado e Dr. Goidanich. O Ver. João Dib, em nome das Bancadas do PDS, PT e PL, e como autor da proposição, falou de seu orgulho em poder reunir os colaboradores do governo de Loureiro da Silva em homenagem a sua memória; ressaltou suas atividades como administrador da cidade, enaltecendo suas qualidades como homem e político. Asseverou que as realizações de seu governo tem marca de perenidade e atualidade. Leu fragmentos de discursos e pronunciamentos daquela personalidade e afirmou que “homens como José Loureiro da Silva nascem para a História”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Leandro Telles, sobrinho do ex-Prefeito José Loureira da Silva que, em nome da família, agradeceu a homenagem, discorrendo sobre a biografia e vida política daquela personalidade. O Sr. Manoel Braga Gastal, em nome dos colaboradores do ex-Prefeito José Loureiro da Silva, agradeceu a homenagem e relatou momentos da vida do ex-Prefeito, destacando a sua capacidade como administrador e seu amor a esta Cidade, e estreita ligação à arte e estética. A seguir, o Sr. Presidente convidou os presentes a de pé, ouvirem pronunciamento gravado do ex-Prefeito José Loureiro da Silva, concedido à emissora de rádio desta capital, no momento em que recebia doação de equipamento, pela Cidade, para o Hospital de Pronto Socorro. O Sr. Presidente convidou, também, os presentes a comparecerem à solenidade que integra as homenagens à memória do ex-Prefeito José Loureiro da Silva, no próximo dia três de junho do corrente ano, às dez horas e trinta minutos, quando serão colocadas flores junto ao Monumento ao insígne político, localizado em frente ao Prédio da Receita Federal. A seguir, o Sr. Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem ao Salão Nobre da Casa e, nada mais havendo a tratar, encerrou os trabalhos às dezoito horas e vinte a sete minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Valdir Fraga e secretariados pelo Vereador Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Há 25 anos passados, Porto Alegre e o Rio Grande do Sul perdiam um dos mais eminentes homens públicos da sua história neste século, José Loureiro da Silva, destemido, culto e talentoso. Loureiro da Silva provinha de uma linhagem familiar que remontava aos fundadores desta Cidade. Prefeito de Porto Alegre duas vezes, 1ª por nomeação do Presidente Vargas, em 1937, a 2ª por eleição direta em 1960. Foi seu remodelador, rasgando ruas e avenidas e transformando a antiga burgo em metrópole dinâmica e moderna. A dívida que a capital gaúcha tem para com Loureiro da Silva é quase irresgatável, e, por isso, nos congratulamos com o Ver. João Dib pela feliz iniciativa ao criar mais esta oportunidade para relembrarmos a vida e a obra do saudoso Índio Charrua, como era carinhosamente chamado por seus companheiros que aqui estão, e vai chegar o momento que também - tomara Deus - que alguém relembre da nossa passagem por aqui. Vai ser difícil comparar com Loureiro da Silva, mas nós, Vereadores, ex-Prefeitos, políticos da Cidade se empenham em prol do bem comum da nossa Cidade e deste Estado.

Registramos, também, a presença de Leandro Telles, sobrinho de Loureiro da Silva, e o convidamos para fazer parte da Mesa, o que muito nos honrará.

De imediato, honrados com a presença dos companheiros que compõem a Mesa, das autoridades presentes, concedemos a palavra ao Ver. Edi Morelli, que falará em nome da Bancada do PTB.

 

O SR. EDI MORELLI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, a incumbência que tenho hoje em falar na memória de Loureiro da Silva me deixa muito feliz, porque hoje, 1º de junho de 1989, decorrem 25 anos do falecimento de José Loureiro da Silva, político e prefeito desta Cidade, à qual dedicou parte considerável de sua profícua existência.

Loureiro da Silva, foi interventor durante o Estado Novo, 1937-1942, e depois prefeito eleito em 1959 a 1962. Como prefeito, construiu a Avenida Farrapos, Salgado Filho, Jerônimo de Ornellas, André da Rocha, entre outras. Mais tarde, canalizou o Riacho Ipiranga e saneou os bairros São João e Navegantes, construindo também o Pronto Socorro Municipal e o Centro de Saúde Modelo.

É extensa a lista de realizações de Loureiro da Silva como prefeito municipal. Para uma justa medida de seu tino de administrador, é bastante dizer-se que, nos últimos cinqüenta anos tudo o que se fez em Porto Alegre, em matéria de urbanização, se não foi obra de Loureiro da Silva, foi idealização sua.

Afora a intimidade espiritual de enamorado, Loureiro da Silva tinha uma penetrante visão da realidade física desta Cidade, a qual conhecia todo o corpo, partícula por partícula, como se tivesse estado presente na origem de tudo, sovando o barro com que ela seria criada pelo Supremo arquiteto do Universo.

Era um dom não compartilhado pela maioria dos mortais, que muitas vezes se opuseram aos seus projetos, tachando-os de delirantes e perdulários. Em 1937 ao assumir a prefeitura como interventor, e anunciar a construção da Avenida Farrapos, Loureiro teve de enfrentar a primeira tempestade, desencadeada pelos proprietários de imóveis da área.

Assim, Loureiro teve de ceder em parte a essas pressões queixando-se disso anos mais tarde, quando os benefícios de sua obra, haviam sepultado definitivamente a polêmica, pois ninguém poderia imaginar Porto Alegre sem a Farrapos.

Segundo a visão dos que com ele conviveram assim foi Loureiro da Silva.

Nele vibrava a nobre tradição dos Pampas, e nem por isso Loureiro, perdia a perspectiva gerada pelos problemas do nosso tempo. O passar dos anos e a mutação das tendências das gerações, aguçavam o seu espírito, fazendo-o dialogar com os moços, para sentir o frêmito do Brasil de amanhã, levando-lhes a preciosa contribuição da sua vivência, nos meandros das grandes soluções, colocando-os na vanguarda daqueles que somam seu amor à liberdade. De ti, creio que se pode dizer, foste um liame vigoroso entre várias gerações, com os olhos voltados para o futuro de nossa pátria.

José Loureiro da Silva, nasceu em Porto Alegre a 19 de Março de 1902, à Rua Gal. Netto, nº 7, transversal da Rua Ramiro Barcelos. A Casa se localizava junto a um corredor de moradias, que infelizmente foi demolida para dar lugar a construção de um edifício.

Loureiro, era filho de Mariano Barbosa da Silva, funcionário da antiga Mesa de Rendas do Estado, e de Cecília Loureiro da Silva. Sua infância transcorreu no bairro Floresta, onde também residiam seus avós. Em 1918, Loureiro, concluiu seus estudos preparatórios no ginásio Júlio de Castilhos, e mais tarde ingressou na faculdade de Direito, formando-se em 1923.

Formado, Loureiro foi nomeado promotor público em São João de Camaquã. Depois exerceu a promotoria em São Luiz Gonzaga e São Gabriel. O golpe de estado de 10 de Novembro de 1937, veio colocá-lo à testa da prefeitura da Capital em substituição ao major Alberto Bins. Na sua mocidade, afirmara Loureiro, que se um dia fosse prefeito de Porto Alegre, haveria de lhe dar nova feição humana; Loureiro cumpriu sua promessa...

A Câmara Municipal, em nome de todas as suas Bancadas, acima das divergências partidárias, é hoje a voz da população, ao homenagear os 25 anos do falecimento do saudoso José Loureiro da Silva que, nasceu, cresceu e morreu amando esta Cidade.

Nesta Casa, está o mais legítimo somatório das aspirações desta capital. Por isso, temos a obrigação de registrar esta homenagem significativa e marcante da história de Porto Alegre.

Rememorar os 25 anos da morte de José Loureiro da Silva, é demonstrar crença no futuro, em reconhecimento a uma iniciativa baseada exclusivamente no trabalho e competência, de um homem que deve ser lembrado e reverenciado, pois sua interpretação até parece que a Natureza e a providência o prepararam carinhosamente para que um dia lançasse a esta Cidade sua imagem e semelhança.

A Bíblia nos diz que a memória dos grandes e justos é eterna, e esta Cidade a quem Loureiro tão bem serviu, guardará eterna memória da sua vida e de suas obras. Neste 01 de Junho uma ponta de tristeza estará em todos os quadrantes de Porto Alegre. É a saudade a um homem que amou e foi amado por esta terra, e que por isso foi grande.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Dilamar Machado pelo PDT.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, raramente esta Casa, através de um de seus representantes, tenha um ato de tanta felicidade, quanto este, de homenagear a figura de Loureiro da Silva. Também, além dos visitantes, e de outros companheiros presentes, talvez, poucos desta Casa tivessem tido o privilégio que tivemos em conviver e conhecer pessoalmente a figura saudosa de Loureiro. Indiscutivelmente, na política do RS, Loureiro representa, hoje, talvez, um dos últimos remanescentes de uma geração: político, na verdade acepção da palavra, mas, acima de tudo, um dos mais fantásticos administradores de Porto Alegre. Para mim, pessoalmente, ainda muito jovem, à época, foi uma grande e magnífica experiência ter participado ativamente da administração Loureiro da Silva. Não, politicamente, não partidariamente, porque o Dr. Loureiro estava acima desses limites de partido. Como funcionário da SMT, ao lado do Dr. Dib, quando Secretário daquela Pasta, o Dr. Nelson Iglesias, o Dr. Dib era o assessor técnico da Secretaria, e ali muito aprendi em matéria de seriedade de administração, objetividade, e acompanhei a administração do Dr. Loureiro até o momento em que ele fez a entrega da Prefeitura ao Dr. Sereno Chaise. Indiscutivelmente, aprendi a gostar da figura humana do Dr. Loureiro, dizer das obras que ele fez por Porto Alegre, é desnecessário, porque todos nós, e muitos dos senhores acompanharam e participaram do trabalho que ele realizou. Agora é indiscutível que ao lado do carisma de Loureiro, havia em torno deste homem singular aquilo que não é necessário a nenhum político auto-proclamar. Loureiro, definitivamente era um homem sério, honesto, incorruptível, objetivo, uma grande figura do Rio Grande. Eu lembro, Dib, no dia em que eu caminhava pela Praça da Alfândega trabalhando quando alguém me disse: “sabe quem morreu? Loureiro”. É interessante que para nós, seus amigos, seus admiradores, Loureiro da Silva tinha uma espécie de mistura e eu sinto isto quando o Dib fala nele. Uma mistura de pai, de irmão e de amigo. Era, indiscutivelmente, um homem fora do comum. A política do Rio Grande perdeu a sua presença física, mas no rol, na História desta Cidade, principalmente desta cidade de Porto Alegre dificilmente outros homens terão a grandeza de um administrador como foi Loureiro. Tinha uma qualidade específica de grande administrador. Era um homem severo, duro no trato com a coisa pública, sem ser autoritário, e isto é muito difícil. Normalmente o Administrador que quer ser duro se transforma em autoritário. Loureiro era duro e era bom. Era sério e competente e tinha uma vantagem, também, que me parece fundamental para quem dirige uma Cidade. Poucos homens e mulheres amaram tanto Porto Alegre como Loureiro da Silva. Aqui era sua vida, seu habitat, e é com muito orgulho, caros amigos, que hoje revejo, muitos dos quais participaram daquela administração séria, e o digo porque participei, depois, embora por poucos meses, da Administração do Dr. Sereno Chaise, que quando, o então PTB do Jango, do Brizola, do Sereno assumiu a Prefeitura, o nosso ex-companheiro Loureiro da Silva, eu não ouvi do Prefeito Sereno nenhuma queixa, nem do seu Secretariado, do Efraim que era o Secretário da Fazenda, do Hamilton que era da Educação, do Dr. Nei que era nossa Secretário do Governo, nenhuma queixa com relação ao que normalmente se chama em política de herança maldita. É muito comum que o administrador quando assume, às vezes por falta de competência e outras vezes até com base em fatos concretos, se queixar no que se chama de herança da outra administração. Pelo contrário, naqueles poucos meses em que acompanhei o Sereno na Prefeitura o que nós sentimos foi o recebimento de uma obra séria, uma prefeitura organizada, um trabalho coletivo, de um funcionalismo satisfeito com o chefe que saia. Por isto em nome da Bancada do PDT, creio eu que nós trabalhistas com a maior autoridade possível dentro da história, da biografia política de Loureiro da Silva só podemos nesta data parabenizar ao Dr. Ver. João Antônio Dib pela iniciativa a esta Casa pela homenagem, aos familiares e aos ex-participantes da luta política da administração de Loureiro da Silva, dizermos que estamos solidários com esta figura. Porto Alegre nunca poderá esquecer a figura do “Velho Charrua José Loureiro da Silva”. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Airto Ferronato que falará pelo PMDB.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, amigos do homenageado, autoridades, família do homenageado, Senhoras e Senhores, é com muito orgulho que venho a esta tribuna, em nome do PMDB desta Casa, para homenagear esta grande personalidade da vida sul-rio-grandense, o Dr. José Loureiro da Silva.

Vejo esta Casa repleta de saudosos amigos, os quais reconhecem a sua obra e engrandecem este momento. Quero cumprimentar o requerente, o nosso colega Vereador João Dib, pela iniciativa e saudar esta Casa, que hoje reverencia a memória do ex-Prefeito Dr. José Loureiro da Silva pelos 25 anos de seu falecimento.

Não tive a honra de conhecê-lo pessoalmente, mas sei quanto este homem público representou e marcou época na história do Rio Grande e na história desta Cidade.

Hoje, estamos aqui reunidos, homens públicos, familiares, seus amigos, para falar não só da saudade, mas relembrar todos os feitos deste homem nascido em Porto Alegre aos 19 de março de 1902, e que em 3 de junho de 1964 atendeu aos desígnios do Criador.

Citar todas as obras deste advogado e engenheiro, que dedicou sua existência à vida pública, não comportaria em tão curto espaço de tempo. Antes de ser Prefeito de Porto Alegre pela primeira vez em 1937, foi promotor público em São João de Camaquã, São Luiz Gonzaga e São Gabriel.

Foi sub-chefe de polícia em Alegrete, delegado de polícia em Porto Alegre, Prefeito de Gravataí onde realizou grandes melhoramentos, inclusive a construção da estrada que liga Porto Alegre àquela Cidade. Foi eleito Deputado Estadual pelo partido Republicano Liberal.

Mas, foi em 22 de outubro de 1937, quando empossado Prefeito de Porto Alegre, o marco inicial da exitosa vida pública em prol de nossa Cidade.

Relembrando uma de suas frases na mocidade, que, “se um dia fosse Prefeito de Porto Alegre, haveria de dar-lhe uma nova feição urbana.” Cumpriu a promessa e suas realizações estão aí para confirmarmos: A av. Farrapos, a av. 10 de Novembro (hoje Salgado Filho), a av. 3 de Novembro (hoje André da Rocha), a av. Jerônimo de Ornellas, o prolongamento da João Pessoa, o ajardinamento do Parque da Redenção (hoje Parque Farroupilha), a pavimentação das estradas de Viamão e Belém Novo, o saneamento dos bairros São João e Navegantes, entre outras obras, drenagem dos riachos, calçamento de inúmeras ruas, os serviços de água, esgoto e saúde.

Fez construir o Hospital de Pronto Socorro, e ainda é mérito de seu primeiro governo, os melhoramentos da Av. Getúlio Vargas e a criação da av. Ipiranga, o prolongamento da Borges de Medeiros, visando a ligação com a futura av. Beira Rio.

Todas estas obras revelam o grande espírito urbanista que possuía. Porém, sua capacidade administrativa não se esgota por aí. No ano de 1945 teve atuação marcante como diretor da carteira de crédito agrícola e industrial do Banco do Brasil.

Em 1960 retorna à Prefeitura após memorável pleito eleitoral. Saneou financeiramente o erário municipal, organizou o Conselho Municipal de Transportes Coletivos, o Conselho Municipal de Turismo, o Conselho Deliberativo da Casa Popular, o Conselho de Administração do DMAE e a criação do mesmo.

O Prefeito Loureiro reorganizou a Guarda Municipal, construiu a feira noturna da Praia de Belas, o terminal de ônibus da Praça Rui Barbosa e ainda o Posto de Pronto Socorro da Vila IAPI, dentre outras notáveis realizações, entregando ao seu sucessor em 1963, a Prefeitura totalmente reorganizada, com obras de vulto concretizadas.

Como podemos observar, a Cidade em que hoje vivemos, tem muito da mão e do intelecto deste eminente administrador público, em cujo exemplo devemos nos espelhar.

Seus feitos jamais poderão ser esquecidos pelo povo porto-alegrense que hoje usufrui do grande legado deixado por este extraordinário homem público, Dr. Loureiro da Silva.

Parta encerrar, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, deixo nosso abraço fraterno aos seus familiares e amigos, reiterando nosso profundo respeito a memória deste incansável e laborioso lutador pela causa pública. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos com muito prazer as presenças dos companheiros e amigos do nosso ex-Prefeito; Dr. Goidanich, Dr. Leônidas Xausa e também do Eugênio Machado.

Com a palavra, o Ver. João Dib, que fala pelas Bancadas do PDS, do PT, do PL e do PCB.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente Valdir Fraga, tenho em mãos, é claro, uma relação de todas as autoridades presentes e não vou citá-las. Vou apenas dizer ao jovem Pedro Marcos Schneider Loureiro, que tem sobre seus ombros uma responsabilidade muito grande, de ser neto de um homem do porte, do quilate de José Loureiro da Silva. Vou dizer ao Ver. Otávio Germano e ao Ver. Manoel Braga Gastal, que nós, Vereadores, nos sentimos muito orgulhosos de tê-los aqui, por alguns momentos, como Vereadores nossos. Vou dizer ao Eugênio Mendes Machado, a última pessoa que viu Loureiro com vida e falou com Loureiro, que é sempre bem-vindo aqui como todos os Secretários, Vereadores, ex-colaboradores de Loureiro, que sempre serão bem-vindos.

Há quinze anos atrás, homenageando Loureiro, dizíamos: “Nós fazemos parte do grupo que afirma que o tempo não passa. O tempo se mantém imutável e inalterado, nós é que passamos por ele, sem que possamos modificá-lo”.

Há, no entanto, homens que por suas qualidades impares e pelas próprias circunstâncias marcam sua passagem por um tempo definido e num espaço determinado. Homens como Loureiro da Silva nascem para a história. Surgem e vivem num tempo certo e cumprem missões de relevo, predestinadas. Loureiro foi um predestinado, razão porque imprimiu ao trabalho que realizou um alto cunho de relevância, um grande espírito de renovação e uma forte marca de perenidade.

Por duas vezes Prefeito de Porto Alegre, terra onde nasceu, administrou-a com tanto amor e empenho que à medida que marcava a sua presença no tempo sentia, como o poeta, que havia muito pouco tempo para todo o amor que ele tinha para dar.

Se é verdade que somente o amor constrói para a eternidade, Loureiro da Silva construiu uma obra duradoura, feita com tanto amor, carinho e devoção que se torna extremamente difícil dizer se a obra foi realizada com amor ou, se por amor foi realizada.

No dizer de Nilo Ruschel: “Se esta Cidade foi amada com um amor-paixão, foi Loureiro da Silva seu amante”.

Existem homens com personalidade e carisma que marcam o seu trabalho e a sua vida terrena e, que pelo seu exemplo dignificante, nos ensinam como agir em todas as ocasiões. São figuras que não nos deixam. Permanecem conosco, ainda que não fisicamente.

Loureiro da Silva, à semelhança dos astros que se desintegram nos espaços siderais e continuam fazendo chegar até nós, por muitos anos-luz, as suas luzes, estará por muito e muito tempo presente na vida de sua Cidade, de sua Porto Alegre, orientando-nos e a nossos pósteros com aquela sabedoria e inteligência que sempre demonstrou nas diferentes tarefas que cumpriu. Advogado, Promotor Público, ruralista, homem de empresa, revolucionário, político, Deputado, Prefeito, seria difícil precisar a sua virtude característica.

Sincero nos seus propósitos, autêntico nas suas posições, homem de fé inabalável nos seus princípios, diríamos que além destas atitudes, a lealdade era traço marcante de seu caráter e personalidade.

Nasceu quando o Rio Grande do Sul era mais história do que hoje. Naquela época em que, nas coxilhas, em meio aos entreveros, construía-se um Estado rico e pujante. Viveu como nasceu e foi criado, livre, solto, desprendido de todos os grilhões, amando a liberdade, como quando livre no lombo dos cavalos percorria nossas campinas.

De porte altivo, foi um símbolo autêntico do gaúcho. Tinha a cor de jambo dos charruas, seus ascendentes. Sua maneira de ser, sua forma de pensar e de agir se coadunaram sempre com o seu jeito de índio, ele que carinhosamente era chamado pelos amigos “O Charrua”. Era dono de imensa cultura e orador brilhante. Num momento falava em saneamento, passava para pavimentação, discutia literatura, poesia, história ou se tornava advogado brilhante.

Coelho de Souza denominou-o “O Bacharel Engenheiro” e definiu o seu caráter dizendo: “Bravo, galhardo, honrado e generoso e, por vezes, assomado e incontido. Essas características é que lhe imprimiam autenticidade incontestada e o convertiam num pedaço vivo do Rio Grande”.

Quando lhe perguntavam se a vida pública lhe trouxera muitas decepções, ele respondia: “Muitas decepções, com algumas compensações. Aquilo que pude realizar, não só em Porto Alegre, mas em benefício do Rio Grande do Sul e do Brasil. E, também, a gratidão de alguns poucos”.

Loureiro é sempre atual. Em 1963, em entrevista dada a Celito Di Grandi dizia: “Entendo que no Brasil está tudo perdido. Há uma série de deficiências conjugadas. Impõe-se uma reforma substancial na vida política, administrativa e social da Nação”. Poderia ser mais concisa uma análise do momento em que vivemos?

Loureiro conviveu com as maiores e mais expressivas figuras da vida pública do País. De todos eles, Getúlio Vargas e Osvaldo Aranha, cada qual pelas suas características, foram os que mais o impressionaram, principalmente Getúlio, com quem conviveu durante trinta anos, permanecendo ao lado do Presidente até o último momento de Vargas e, ao retornar, dizia: “Retorno à minha terra; amargurado e triste. Volto ao Rio Grande apreensivo com o que vi e ouvi nestes últimos tempos e a experiência decepcionante de homens e de fatos. Sinto o conforto de ter sido útil ao meu País, especialmente ao Rio Grande. Toda a minha vida pública gravitou em quase trinta anos, nas horas boas e más, em torno do inesquecível mestre e amigo Dr. Getúlio Vargas. Acompanhei-o vivo, lealmente, e agora que está morto, quero honrar sua memória”.

Lembramo-nos com muito carinho e emoção de um de seus últimos discursos, como Prefeito, quando inaugurava a pavimentação da Baltazar de Oliveira Garcia e dizia: “Sou o último de uma série de homens que já não estão mais conosco. Getúlio, Osvaldo Aranha, João Neves, Salgado Filho, Pasqualini e tantos outros para quem a palavra valia o que hoje não valem os documentos”.

Enamorado de Porto Alegre, ele era o homem cruzando feliz as suas ruas e que se despedia, andando pela Rua da Praia, naquele centro que o enfeitiçava sempre. E o que se viu foi a Cidade retribuir amor com muito amor, pois o povo acorreu em massa para dele se despedir.

Em poucas palavras dissemos algumas poucas coisas da vida do grande homem público José Loureiro da Silva e, para encerrar, porque dissemos que ele continuará nos orientando e transmitindo a sua fé inabalável, peço que ouçam esta mensagem de esperança, mais do que esperança, de certeza.

(Ouve-se uma gravação do pronunciamento feito pelo Sr. Loureiro da Silva por ocasião da inauguração da Av. Farrapos.)

“Eu, cada vez mais me orgulho de ser filho desta Cidade, porque ela será o exemplo e é o exemplo em todo o nosso País, sobretudo numa época como essa, de inquietação, de dúvidas, de medos, porque Porto Alegre ainda é uma Cidade, que mesmo que se abra a caixa de Pandora, de onde saem todos os males, ela fica no fundo do seu coração, uma esperança, uma grande esperança no seu futuro.”

Tenho a certeza de que hoje sairíamos daqui com a grande esperança no futuro da nossa Porto Alegre muito reavivada. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A seguir, daremos a palavra ao Sr. Leandro Telles, sobrinho do homenageado.

Pedimos também à técnica de som para que logo após o pronunciamento do ex-Vereador, ex-Vice-Prefeito, no período de Loureiro da Silva, Manoel Braga Gastal, para que nos coloque a fita do Dr. Loureiro da Silva, pois não terá outra pessoa melhor para encerrar essa solenidade.

 

O SR. LEANDRO TELLES: Sr. Presidente; demais membros da Mesa; meus parentes; demais auxiliares do meu inesquecível tio, meu caro Ver. João Dib. Eu gostaria, antes de exprimir o meu agradecimento sincero a esta Casa por estar lembrando essa figura inesquecível de Loureiro da Silva, eu gostaria de prestar uma pequena homenagem ao Goidanich, que está ali muito retraído. Tudo isso que os senhores ouviram acerca de Loureiro da Silva parte de um modesto trabalho meu, publicado no Caderno de Sábado em 04/11/1970.

Pois bem, eu cheguei com fotos do meu tio, que eu possuo no meu arquivo, ainda fardado com uniforme do Júlio da Castilhos, e disse: “Olha Goidanich, eu gostaria de publicar isso agora que está se inaugurando o Viaduto Loureiro da Silva com uma homenagem ao Velho Loureiro”. Ele respondeu: “Ora, se tratando de Loureiro da Silva, vamos publicar já.” E assim surgiu, graças ao Goidanich, esse Caderno de Sábado, unicamente dedicado à memória de Loureiro da Silva e enriquecido com fotos do meu arquivo.

Eu não vou falar das obras porque os Vereadores que me antecederam já relataram tudo que tinham que relatar. Eu apenas queria lembrar uma frase de Assis Chateaubriand, um dia, escrevendo no “Diário de Notícias”, ele denominou a Loureiro de “O Prussiano da Lagoa dos Patos”. É o título desse artigo de Assis Chateaubriand. Acho que ele foi muito feliz na definição. “O Prussiano da Lagoa dos Patos”, talvez definisse bem o seu caráter, afastando pejorativamente o que possa ser prussiano, mas no sentido de altivez, honradez, e principalmente no sentido de ser fiel a seus princípios. Isso, ele, toda a sua vida foi. Enfrentou empresas poderosas, como uma empresa de refrigerantes que queria se adonar do carnaval de Porto Alegre. Enfrentou-a e conseguiu, em parte, vencer. Ele não tinha medo de enfrentar os obstáculos. O Dr. Braga Gastal, certa vez, não me canso de repetir, foi testemunha de um comando pessoal dele, na Av. André da Rocha, quando os moradores, “senhoras da mais velha profissão existente na face da terra”, quando receberam um ultimato para se retirar num determinado dia. Pois bem, não se retiraram. E lá estava, no dia marcado, o Prefeito de Porto Alegre, comandando patrolas e grupos. E assim surgiu a Av. André da Rocha. Sob este aspecto era um prussiano.

Chamaram-no aqui de engenheiro. Ele não era engenheiro. Era um urbanista, que eu classificaria como urbanista amador. Um homem que em 1942 publicou um livro, um plano de urbanização, que até hoje é uma raridade bibliográfica, em companhia de Lovegildo Paiva, se não me engano, foi o co-autor do livro. Era um Prefeito apaixonado pela urbanização, e principalmente apaixonado pela sua Cidade natal, onde nascera na Rua General Neto, num corredor de casas, e na Casa ao lado, por ironia do destino, nasceu anos mais tarde Wilson Vargas. Que por ironia do destino seria um adversário que o derrotaria em 1959, naquela memorável eleição. São essas ironias do destino.

Prefeito de origens populares - hoje se fala muito em populismo. Descendente - o meu trisavô, bisavô dele foi um humilde carpinteiro - de um humilde carpinteiro, um humilde carpinteiro e marceneiro, Manoel Loureiro, que veio lá do norte de Portugal, da região de São Miguel de Artozelo, Vila Nova de Gaya, e que veio, aqui, trabalhar com seu colega, o Couto e Silva, que é o trisavô de todos estes célebres advogados, aí, que também era marceneiro. Meu Trisavô morreu cedo, ele continuou e realizou obras notáveis na Igreja das Dores, na Igreja da Conceição. Portanto, de origem humilde e não esquecendo esta sua origem humilde, ele foi, talvez, o primeiro Prefeito de Porto Alegre que se preocupou com os Bairros operários da nossa Cidade, mandando, na sua primeira gestão, sanear São João e Navegantes. Talvez esta preocupação populista de Loureiro da Silva que, na verdade, sempre foi trabalhista, o Ver. Dilamar Machado, meu antigo colega na SMT, é testemunha disto, fiel, principalmente, ao seu inesquecível chefe Getúlio Vargas.

Eu estava há pouco tempo em Recife, em Olinda, num Simpósio, promovido pelo Serviço de Intercâmbio Alemão, quando vi um turista enaltecendo a figura de Maurício de Nassau, um príncipe alemão, os senhores todos conhecem, ele dizia: foi, até agora, o nosso melhor Governador. Quer dizer, depois de Maurício de Nassau, não houve Governador que o superasse. E eu ouvi o nobre Vereador dizer que, realmente, tudo o que se fez em matéria de urbanismo até hoje em Porto Alegre, digno de nota, foi feito por Loureiro da Silva.

Ele cresceu livre e solto no Morro Ricaldone, onde, mais tarde, ele construiria a sua Casa. Foi dotado de uma grande cultura. Uma vez, numa Exposição de Átomos, Loureiro da Silva discorreu sobre os átomos como se fosse um Professor de Física Atômica ou coisa parecida. Aí, o Dr. Braga Gastal perguntou: como é que você sabe tudo isso? O Loureiro respondeu: passei a noite lendo. Realmente, com a sua memória ele aprendia muitas coisas.

Eu tive, já, sérias rusgas com o Ver. João Dib, principalmente naquela questão da destruição dos abrigos de bondes, isto são coisas passadas que não movem moinho. Mas uma coisa eu devo agradecer ao Ver. João Dib, a sua fidelidade, a sua lealdade para com a memória do meu tio. Ele realmente tem sido alguém que não esqueceu. E eu tenho certeza que quem assim procede pela sua existência - afora será aquinhoado com o galardão da vida. Eu acho que esta lealdade de João Dib para com Loureiro é exemplar: E eu diria aos Srs. políticos, gente, não sou político, nunca fui, mas nesta confusão que toma conta do País, não diria um festival de besteiras porque aí seria demais, um Stanislau Ponte Preta, nesta confusão política eu acho a imagem de Loureiro da Silva exemplar. Eu acho que os senhores políticos que o tomassem para paradigma, estariam tomando como exemplo alguém que foi de uma fidelidade a esta Cidade assim mesmo e principalmente, ao povo brasileiro. Muito obrigado, em nome da minha família, por esta homenagem. Sou grato. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Dr. Manoel Braga Gastal que vai falar em nome dos companheiros presentes da equipe de trabalho da Administração de José Loureiro da Silva.

 

O SR. BRAGA GASTAL: Sr. Presidente desta Casa, Srs. Vereadores, membros da Mesa, senhoras e senhores. Inicialmente quero agradecer a oportunidade que me dá a cada ano o meu querido Ver. João Dib de me abeberar na fonte desta fidelidade a que aludiu aqui há pouco Leandro Teles à memória do nosso inolvidável Loureiro da silva. E quero já quase numa explicação pessoal, dizer do quanto me faz bem à alma o convívio da Câmara Municipal de Porto Alegre. Aqui, a partir de dezembro de 1947, nesta Casa, eu aprendi na prática a trilhar os caminhos da democracia, elaborávamos então, a partir do nada e a partir de nenhuma conhecimento, a Lei Orgânica que durante muito tempo norteou os serviços da Câmara Municipal de Porto Alegre. Foi um trabalho dos mais profundos e dos mais difíceis, não havia um paradigma, depois dos anos do obscurantismo político do Estado Novo, não havia um paradigma democrático em que nos apoiássemos para a realização daquele serviço, mas ele foi feito, pelo menos, com devoção, informa os anos que perdurou aquela Carta de 1947.

Eu quero agora dizer que falando em nome dos que se honraram de colaborar com Loureiro da Silva e ainda hoje têm nesta tarefa o seu grande motivo de orgulho, revelarei apenas alguns dos instantes que foram nossos, dele e meu apenas. Eu penso, e isto a dona Lizete me disse certa vez numa destas homenagens, que nos últimos anos da vida de Loureiro tenha eu sido, fora do círculo familiar, a pessoa que mais brigou com o grande brasileiro que foi Loureiro da Silva. Eu tinha por ele uma afeição quase filial, e ele me retribuía com um paternalismo que me comovia todos os dias. Chegava pela manhã sempre às 9 horas depois de ter percorrido a Cidade, e eu já esperava o telefonema, eu estava na Secretaria e ele dizia: “Meu Lord do tesouro”, assim me chamava. “Como é que vão as coisas?” E eu dizia, “estarei aí dentro de poucos minutos”, atravessava a rua e levava a ele os boletins do movimento financeiro da Prefeitura, Secretário da Fazenda que eu era. E ele, então, com aquela sua memória prodigiosa me disse: “hoje a receita foi mais tanto do que foi ontem”. Eu já nem lembrava, quanto havia sido a receita no dia seguinte. Mas ele guardava de cabeça. Depois comentávamos coisas da Administração, eu voltava para a minha Secretaria e ele trabalhava quase que ininterruptamente até às 6 horas da tarde. Quando eu voltava ao seu Gabinete para dizer como havia sido o dia, depois de rápida conversa ele pegava o seu imenso chapéu e dizia: “O que eu não fiz até agora nesse dia, eu não vou fazer mais.” E ia embora. Ia visitar Eugênio Machado, ia no Clube do Comércio, então terminava o dia de um homem que passava pensando na vida de Porto Alegre, todos os instantes da sua jornada de trabalho, mesmo em casa. Falou-se em Loureiro Administrador, num Loureiro tocador de obras, num Loureiro forte de convicções, eu quero falar um pouco num Loureiro esteta, num Loureiro amante do belo e quero dar apenas um depoimento. Morava eu na Vila Assunção e ele veraneava um pouco adiante, em Ipanema. Depois do jantar, certa noite, ele me telefonou: “Você está desocupado?” E eu digo: “estou, doutor.” “Vamos a Gravataí.” Digo, “a Gravataí, o que há em Gravataí?”, “Há lá uma reunião de poetas e tradicionalistas da América Latina, e eu fui convidado. Vamos lá?” “Vamos”. Dali há pouco ele passou, me pegou e seguimos. Quando chegamos, era uma imensa sede, lotada com as plaquetas que indicavam Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai. Discorriam alguns oradores a respeito do que ali os congregavam, quando alguém do meio da multidão, certamente conhecendo o Loureiro, pediu que ele declamasse Aureliano Figueiredo Pinto, que fora na sua opinião, o maior poeta do Rio Grande do Sul, poeta regionalista. Ele convivera com Aureliano, em Alegrete, ou São Gabriel, pela fronteira aí. Fora companheiro de quarto de Aureliano e tinha do grande poeta imensos poemas, absolutamente inéditos. Com aquela memória - volto a dizer - prodigiosa declamou dois ou três poemas e depois disse: “mas não seria justo que eu só declamasse um poeta brasileiro”. “Vou declamar poesias das pátrias dos senhores”. E para embevecimento de todos começou pelo México, que não tinha representação, mas de quem ele conhecia um dos grandes poetas rústicos daquela pátria. Depois foi pela Argentina, foi pelo Uruguai, foi pelo Paraguai, pelo Chile, e era um urro só naquela massa. Quando saímos dali, voltávamos para cá, eu perguntei: “Mas o Senhor lembra de tudo isso aí?” “Não - disse ele - algumas dessas coisas eu aprendi hoje, entre 5 e 6 horas.” Coisa impressionante, aquele homem, uma figura ciclópica, aquela beleza de indivíduo, declamando, sentia-se o varrer dos ventos dos agrestes das pátrias ali congregadas! No outro dia, fui visitá-lo, de manhã, e disse: “Dr. Loureiro, o Senhor é responsável por eu não ter podido dormir essa noite. Fiquei pensando nas suas poesias e em quantos anos precisaria eu para aprender uma delas só, para decorar uma delas.” Esse foi o esteta, o homem adorador do belo, o homem que se embriagava com o pôr-do-sol do Guaíba, o homem que se enternecia olhando da janela da Prefeitura e vendo a sua Cidade, e comparando-a ao burgo que ele trazia vindo dos seus ancestrais, fundadores desta Cidade, e do quanto ela crescera, e do quanto ela se fizera bonita. E ele olhava o recorte do Rio e dizia: “Que pena, emparedaram o Guaíba”. Referia-se aos muros que construíram para o lado do cais. “Um dia - dizia - se eu ainda puder, vou libertar o Guaíba.” Sonho que não pôde realizar, porque outros sonhos lhe vieram na ordem de preferência, e ele os sonhou todos.

Quero, agora, dar apenas mais um depoimento, este já do homem de ação, do homem capaz de resolver as situações mais aflitivas, rapidamente. Quando assumimos a administração de Porto Alegre, eu era seu Vice-Prefeito e esse é o título que mais prezo na minha vida pública, o de ter sido o segundo de um primeiro como Loureiro, encontramos o funcionalismo da cidade de Porto Alegre mergulhado num caos terrível. Naquele 31 de janeiro de 1960 havia restos a pagar de outubro de 1959 e, conseqüentemente, todo o mês de novembro, todo o mês de dezembro e todo o mês de janeiro. Ele me chamou, certa manhã, e disse: “temos que solucionar isso”. Ao que respondi: - Dr. Loureiro, não poderemos fazer isso a curto prazo. Ele disse: - “Ainda ontem telefonei, à noite, para o Prof. Carvalho Pinto”, - estou contando coisas que, acho, nenhum dos Senhores conhecia - “Telefonei para o Prof. Carvalho Pinto, Governador de São Paulo e pleiteei uma ordem de um pequeno empréstimo ao Município de Porto Alegre, através do Banco do Estado de São Paulo”. O pequeno empréstimo era para cobrir uma folha de mês da Prefeitura, ao redor dos cem milhões. Alguns dias passaram e ele me telefonou: - “Veio a ordem positiva”. Lá nos fomos para o Banco do Estado de São Paulo, atravessando a rua, e o gerente disse a ele: “Dr. Loureiro, veio a ordem, mas o Senhor terá que apor duas assinaturas, uma aqui e a outra aqui”, a “aqui” era do lado esquerdo, era como se ele fosse avalista do Município de Porto Alegre. O Xausa sabe disso! Quando saíamos do banco, colocando a mão sobre o meu ombro disse: “Meu lorde, se alguma coisa me acontecer, o Senhor é que vai solucionar isso aí. Isso não é dinheiro meu, é dinheiro da Lizete e ela não pode saber.” Com a graça de Deus e com muito esforço conseguimos abater ao fim de um mês e pouco 30% da dívida e depois as coisas foram melhorando e terminou o problema. É este homem denodado, homem de ação, homem de bem-querer principalmente porque era um amigo extremado de seus amigos e todos o queriam. É a memória deste homem que nós estamos aqui hoje, neste princípio de noite, reverenciando e eu agradecendo ao Dib a oportunidade que me dá de ter essas lembranças. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Vou convidar os companheiros e amigos para, de pé, ouvirmos o pronunciamento de nosso Loureiro da Silva, como se ele estivesse em palanque, neste momento.

 

(É rodada uma gravação de pronunciamento do ex-Prefeito José Loureiro da Silva.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h27min.)

 

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